Marta Chaves (Portogallo), quattro poesie tradotte da Matteo Pupillo

PRIMEIRO: CONTINUAR. SEGUNDO: COMEÇAR

Se não escrevo, leio.
Não descanso até encontrar
o poema que me alivie.
Encontrarei palavras
que me emprestem sentido.

É um modo de sobrevivência que pratico,
procurar casas dentro de casa.
Transporto uma candeia discreta e vejo
nos poetas-irmãos e nos poetas-amantes,
sossego para as emoções que me fazem cerco.

Fecharei os olhos
quando me sentir iluminada por dentro.

(Dal libro “Varanda de Inverno”)

PRIMO: CONTINUA SECONDO: COMINCIA

Se non scrivo, leggo.
Non riposo finché non trovo
la poesia che mi consola.
Troverò le parole
che mi danno un senso.

È una modalità di sopravvivenza che pratico,
per cercare case nella casa.
Porto una lampada discreta e scorgo
nei poeti-fratelli e nei poeti-amanti
quiete per le emozioni che mi assediano.

Chiuderò gli occhi
Quando mi sentirò illuminata dentro.

 

AO FIM E AO CABO

Não te separes de nada, a nada te juntes.
As coisas tomam a direcção que lhes é própria.
Da casa em chamas, aprecia a sua combustão,
repara como a matéria se transforma.
Que dom habitará o que é tocado pelo fogo?

Não esqueças o silêncio no promontório,
crê que afinal a rebentação das ondas é calma.
A areia é que não sabe escolher
um lugar onde pousar.

(Dal libro “Varanda de Inverno”)

ALLA FIN FINE

Non separarti da niente, unisciti a niente.
Le cose fanno il loro corso.
Della casa in fiamme, goditi la sua combustione,
osserva come cambia la materia.
Quale dono abiterà ciò che è toccato dal fuoco?

Non dimenticare il silenzio sul promontorio,
credi che in fondo il frangersi delle onde sia calmo.
La sabbia non sa scegliere
un luogo dove posare.

 

SANDYMOUNT

Caminho quilómetros até o sol se pôr
e não chego a vê-lo.
Atravesso a maré baixa
de olhos postos no farol.
Chego a casa
a luz natural desaparece,
acendo o candeeiro
e as distracções ganham nova sombra.
Invento tempo para coisas pequenas
que caibam na minha mão.

(Dal libro “Varanda de Inverno”)

SANDYMOUNT

Cammino per chilometri fino al tramonto del sole
e non lo vedo.
Attraverso la bassa marea
con gli occhi rivolti al faro.
Arrivo a casa
la luce naturale scompare,
Accendo la lampada
e le distrazioni assumono una nuova ombra.
Ritaglio del tempo per le piccole cose
che si incastrano nella mia mano.

SER E NÃO SER

Entre mim e os livros na estante,
no espaço ocupado pela luz,
dão-se transformações
a que assisto quieta e calada.

Depois de olhar o ar,
cada palavra reflecte
o lugar invisível de onde veio o poema
ou o silêncio que passou pela casa.

A alma não escolhe a estação
nem prevê o detalhe do infinito.

Reparo com espanto infante
nos vestígios deste ritual,
os livros que não li
sabem de mim
e não dormem nunca.

(Dal libro “Avalanche”)

ESSERE E NON ESSERE

Tra me e i libri sullo scaffale,
nello spazio occupato dalla luce,
avvengono trasformazioni
che osservo con calma e in silenzio.

Dopo aver guardato l’aria
ogni parola riflette
il luogo invisibile da cui scaturì la poesia
o il silenzio che attraversò la casa.

L’anima non sceglie la stagione
né prevede il dettaglio dell’infinito.

Noto con stupore infantile
sulle tracce di questo rituale,
che i libri non letti
sanno di me
e non dormono mai.

 

Marta Chaves (1978) è nata a Coimbra e vive a Lisbona. È una psicologa clinica e psicoterapeuta. Dal 2008, pubblica le  sue poesie in diverse antologie di poesia e riviste di poesia.

Ha pubblicato i libri Onde não estou, tu não existes (Tea for One, 2009), Pensa que deixou de pensar dela (Tea for One,, 2010), Dar-te amor e tirar-te a vida (Tea for One,, 2012), Pedra de Lume (Paralelo W, 2013), Perda de Inventário (Alambique, 2015), Varanda de Inverno (Assírio & Alvim, 2018), Perda de Inventárioedição revista e ampliada, (Corsário-Satã, 2020, Brasile) e Avalanche (Assírio & Alvim, 2021).